8 de abril de 2013


Eu tinha tanta coisa para te dizer. Mas esqueci. Esqueci porque olhei bem no fundo dos teus olhos. E reparei em como eles ficam bonitos como o reflexo do sol. Por distração, cheguei mais perto. Senti a fragrância do teu perfume importado. Aquele que compramos juntos na véspera do Natal de 2009. Foi meu presente e agora, é meu passado. Minhas mãos estão tremendo. Estamos conversando sobre qualquer assunto que faz a mínima diferença. Minha mãe te adora. Te deixou entrar e agora, estamos aqui, frente a frente, sem saber o que fazer com nossas mãos. Alguma coisa dentro de mim começa a acontecer. É como se eu estivesse sendo anestesiada. Está acontecendo. Pouco a pouco. Não sinto dor, não sinto nada. Sou um vazio, tão leve, que poderia voar agora mesmo para os seus braços e cair nesse sofá. Nesse nosso sofá. Onde nos descobrimos e nos perdemos. Onde me encontrei, por várias semanas, sozinha. 

Tenho uma lista de motivos para te odiar. Uma vontade enorme de pegar agora mesmo esse vaso de vidro azul da estante e jogar na sua direção. E vai doer. Menos em você do que em mim. Mas pelo menos assim, terá um motivo para me odiar. Um motivo para deixar de aparecer na porta enquanto eu espero o cara do restaurante. Mentira, eu espero você. Minha fome não importa. Nem o clima. Nem o dia do mês. Nem o que dizem no facebook. Não tem graça. É para mim, mas não é de você. 

O assunto era a matéria da prova de história. Segunda guerra mundial. Mas agora, estamos discutindo o quanto sou egoista por não te dar mais uma chance. O que você diz não faz sentido algum, mas em alguns minutos, me faz acreditar. A culpa é minha. Eu fiz você mentir naquele final de semana e ao invés de passar a madrugada jogando Warcraft, sair e ir para um barzinho com nome tosco. Fiz você beber mais do que devia e aceitar o convite para balada. Fiz você ter amigos mulherengos que te encorajaram. Fiz você se aproximar daquela garota que estava perto da mesa do Dj. Fiz você reparar no tamanho do vestido bandage rosa bebê . Fiz você colocar a mão em sua cintura, e dizer alguma coisa que nem você mesmo se lembra. Fiz você piscar e por último, fiz você segurá-la na parede e beijar, lentamente, sua boca e pescoço como se não houvesse amanhã. Como se não houvesse alguém, no outro lado da cidade, dormindo profundamente, com um pijama de bolinhas, luz apagada e um urso enorme segurando um coração com aquelas três palavras. Era eu.

Estou gritando e dizendo tudo o que penso. Sem joguinhos e planos para você achar que já superei ou sou uma garota desapegada. Minha cadelinha late incessantemente e agora, você está do outro lado da porta. Também gritando. Escorrego pela parede e desabo. Abro os olhos e estou na minha cama. Não sei se o dia já acabou o se é madrugada. Meus olhos estão inchados e mentalmente, acabo de listar todos os motivos que tenho para manter meu corpo longe de você. Assim como fiz ontem e provavelmente, farei amanhã. 

A lista - Bruna Vieira

4 Comentários ♥:

Anônimo disse...

Esa lista que contiene todos los ingredientes del desamor y el desencanto.
Muy buen relato de Bruna Vieira.
Abraços.

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá, gostei do texto...Espectacular....
Cumprimentos

HONORATO, Sandro. disse...

Boa noite :)
Como vai ?
Adorei o texto *----*

Tão lindo e tão triste ao mesmo tempo :(

Olha, segundo paragrafo tem um errinho. "Enorme" está escrito errado >.<

Beijão e cuide-se
Rimas Do Preto

Unknown disse...

Como é lindo esse texto, Gi. Como a Bruna foi profunda ao escreve-lo. Como tocou nossos sentimentos! As coisas que fazemos sem pensar e que nos levam, depois da perda, a não fazer outra coisa senão listar e pensar, são um capítulo especial em nossa vida. Gostei demais de teu blog, menina. Nele, mostras uma face encantadora.

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Beijos!

Gisele Braga

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