11 de setembro de 2016



Não tenho nem o direito de invadir espaços que não são meus. Não sou uma divindade, tampouco juíza. Por isso, me recolho. Sou um grão de areia no meio dessa imensidão toda. E não admito que alguém dê palpite na minha vida, que nada tem de perfeita. Tenho reticências que vivem pegando no meu pé, alguns parágrafos incompletos, frases que começam sem nexo, textos que não se desenvolvem, ideias que mudam de lugar, pontos finais e sílabas que não se casam. Tenho lá minhas melancolias, minhas músicas bregas, meus choros inexplicáveis, meu humor que anda de gangorra, meus momentos de surto e solidão. Porque sou humana. E isso explica tudo.

 Clarissa Corrêa

3 de setembro de 2016



Ela está mudada, desapegada das tristezas e decepções do passado, acho mesmo que dessa vez ela deixou de ser uma menina e virou uma mulher. Acho que ela concluiu os principais estágios do jogo da sua vida. Se feriu, se machucou, mas pouco a pouco foi dando a volta por cima de tudo o que havia lhe acontecido antes. Ela amadureceu, aprendeu a se auto-valorizar, se encheu de flores e começou reluzir seu encanto por onde passa. Começou a ser mais notada, mais observada e até mais desejada por aqueles que nunca se quer lhe deram atenção. Saber por quê? Porque a energia contagia! Porque quando a gente se ama, os outros começam a nos amar também. Sempre acreditei que o primeiro passo rumo à felicidade, é ficar bem. É se manter firme e forte na direção de suas metas, apesar de todos os apesares. A vida não é um drama, portanto, não perca tempo se lamentando e se perguntando o porquê de algo não ter dado certo, se não foi então já era, supere e esqueça! Vira o disco, rasga a página e escreve outra, sai da rotina, ocupa a mente com coisas novas, mas só não transforma isso no fim dos tempos, porque obviamente não é! Se você aprender a olhar tudo por outro ângulo, perceberá que a vida é bonita, que tudo é breve, que o ''pra sempre'' não existe e que as coisas mudam a todo instante. Por isso mesmo não devemos fixar o olhar em apenas uma direção, e muito menos manter apegos exagerados por coisa alguma, pois nada é realmente nosso; tudo uma hora se vai. 

Jairo Luís 
(instagram.com/amei.pensei.falei)


Quem cruza seu caminho, não cruza em vão. As pessoas que passam pela sua vida determinam, atreladas a outros fatores, a pessoa que você será no futuro. A diferença e a intensidade desses “encontros” são determinadas pelas pretensões de cada um. E acredite, tudo que sua mãe falou sobre “boas e más intenções” existem. O problema é que na grande maioria das vezes a gente só percebe isso quando já foi atingido por pelo menos meia dúzias delas, sem nos darmos conta de que por isso já somos outra pessoa. 

 Fernanda Bezerra

1 de setembro de 2016


As pessoas seguram uma risada quase de pena. Mas se ele nem morava aqui, mas se ele não ficou mais do que uma semana com você, mas se já faz tempo que ele se foi, sem nunca ter sido. Então o quê? Nem eu sei. Mas sei da minha enxaqueca que já dura uma semana. Latejando sem parar. O coração que subiu nos meus ouvidos. Gritando que sente falta e pronto.Eu sinto falta de ligar o celular, depois do avião aterrissar, e ter uma mensagem sua dizendo que vai dar tudo certo. E sorrir mesmo estando numa fila gigantesca para o táxi, embaixo daqueles 78 graus do Rio de Janeiro. Não tem poesia nem palavra difícil e nem construção sofisticada. O amor é simples como sorrir numa droga de fila. E não se sentir mais sozinho e nem esperando e nem desesperado e nem morrendo e nem com tanto medo. Eu sinto falta de querer fazer amigos em qualquer festa, só pra conhecer gente estranha e te contar depois. Agora, eu fico pelos cantos das festas. Voltei a achar todo mundo feio e bobo e sem nada a dizer. Porque eu acho que estava gostando mais das pessoas só porque te via em tudo. Agora as pessoas voltaram a me irritar. E eu voltei a ter que fazer muita força pra sair de casa. Quando alguém não entende o meu amor, eu lembro daquele dia que você não queria tocar violão pra mim. Até que dedilhou reclamando que não era o seu violão. Daí tentou uma música conhecida. Tentou uma menos conhecida. Daí tocou uma sua, com a voz baixinha e olhando pro nada. E então me encarou e cantou com a voz alta. E então largou o violão, me encarou e cantou bem alto a sua dor, de pé, na minha frente, e eu achei que meu peito ia explodir. E ri achando que você ia sair correndo e dar um show na padoca da frente. E naquele momento eu pensei que poderíamos ser infinitos se fossemos música. E isso explica tudo, mas ninguém entende. Você entende. Mas cadê você? Quando vai dando assim, tipo umas onze da noite, o horário que a gente se procurava só pra saber que dá pra terminar o dia sentindo algum conforto. Quando vai chegando esse horário, eu nem sei. É tão estranho ter algo pra fugir de tudo e, de repente, precisar principalmente fugir desse algo. E daí se vai pra onde? 

Tati Bernardi

Já conheço os passos dessa estrada 
Sei que não vai dar em nada 
Seus segredos sei de cor 
Já conheço as pedras do caminho 
E sei também que ali sozinho 
Eu vou ficar, tanto pior 
O que é que eu posso contra o encanto 
Desse amor que eu nego tanto 
Evito tanto 
E que no entanto 
Volta sempre a enfeitiçar 
Com seus mesmos tristes velhos fatos 
Que num álbum de retrato 
Eu teimo em colecionar 

Lá vou eu de novo como um tolo 
Procurar o desconsolo 
Que cansei de conhecer 
Novos dias tristes, noites claras 
Versos, cartas, minha cara 
Ainda volto a lhe escrever 
Pra dizer que isso é pecado 
Eu trago o peito tão marcado 
De lembranças do passado 
E você sabe a razão 
Vou colecionar mais um soneto 
Outro retrato em branco e preto 
A maltratar meu coração 

Chico Buarque



Quando acordei esta manhã no quarto úmido e escuro, ouvindo o tamborilar da chuva por todos os lados, tive a impressão de que havia sarado. Estava curada das palpitações no coração que me atormentaram nos últimos dois dias, praticamente impedindo que eu lesse, pensasse ou mesmo levasse a mão ao peito. Um pássaro alucinado se debatia lá dentro, preso na gaiola de osso, disposto a rompê-lo e sair, sacudindo meu corpo inteiro a cada tentativa. Senti vontade de golpear meu coração, arrancá-lo para deter aquela pulsação ridícula que parecia querer saltar do meu coração e sair pelo mundo, seguindo seu próprio rumo. Deitada, com a mão entre os seios, alegrei-me por acordar e sentir a batida tranquila, ritmada e quase imperceptível de meu coração em repouso. Levantei-me, esperando a cada momento ser novamente atormentada, mas isso não ocorreu. Desde que acordei estou em paz. 

Sylvia Plath
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